Museu Boulieu recebe Noite das Ideias 2023 edição – Ouro Preto

Um evento internacional, anual, dedicado ao livre fluxo de ideias e conhecimento, em sua primeira edição na cidade de Ouro Preto

Com o apoio institucional do Instituto Francês e da Embaixada da França no Brasil, através do Bureau du Livre, a Aliança Francesa de Ouro Preto está organizando diversas atividades no mês de março no âmbito da Noite das Ideias 2023, um evento anual internacional dedicado à livre circulação das ideias e saberes.

O objetivo do evento, criado na França e difundido em diversas regiões do planeta, é proporcionar uma noite de debates e momentos artísticos, a fim de refletir coletivamente sobre a maneira de nos aproximarmos uns dos outros e de imaginar um futuro melhor, com espaços públicos e sociedades mais inclusivas e acolhedoras.

Pela primeira vez, em Ouro Preto, a Noite das Ideias-2023 vai acontecer no próximo sábado, dia 04 de março, às 19h no Museu Boulieu, e promove um debate aberto ao público entre Célia Xakriabá, personalidade indígena recentemente eleita Deputada Federal por Minas Gerais, e o escritor caribenho e francês Malcom Ferdinand, que desenvolve uma extensa pesquisa sobre ecologia e decolonialidade, mediado pelo prof. Alex Bohrer, do Instituto Federal de Minas Gerais.

Malcom Ferdinand estará lançando seu livro intitulado Uma ecologia decolonial, publicado no Brasil pela Ubu Editora em 2022 e primeiro lugar em vendas na Amazon, na rubrica Ciências Ambientais. O livro recebeu o prêmio da Fundação de Ecologia Política de 2019.

Após o debate, a “Bateria Pulsação” da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão se apresenta, celebrando a cultura popular de origem africana, gênese do povo ouropretano.

O evento, que conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, Instituto Federal de Ouro Preto e Instituto Boulieu, é gratuito e aberto ao público, sujeito à lotação do espaço, por ordem de chegada.

Mini-currículo Malcom Ferdinand

Malcom Ferdinand é graduado em engenharia ambiental pela University College London (UCL), doutor em filosofia e ciência política pela Universidade Paris VII, e pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique, atuando no Institut de Recherche Interdisciplinaire en Sciences Sociales (Irisso) da Université Paris Dauphine-PSL (Paris 9). Tem especialização em engenharia ambiental e pesquisa a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais a partir da situação do Caribe. Em seu livro “Uma ecologia decolonial”, aborda a relação intrínseca entre a questão ecológica e a questão colonial, demonstrando o quanto estão imbricadas tanto em sua origem quanto em suas consequências. O livro, lançado em francês em 2019, foi premiado pela Fondation de L’écologie Politique.

Mini-currículo Célia Xakriabá

Célia Xakriabá assumiu recentemente o posto de Deputada Federal, tendo sido eleita em 2022, pelo PSOL. Ela é mestra em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e doutoranda em antropologia pela UFMG. Célia faz parte da Articulação Rosalino Gomes, presente no Norte de Minas, e é uma das fundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Na Secretaria de Educação de Minas Gerais, atuou para a abertura de escolas indígenas e quilombolas e a reabertura de escolas do campo em todo o estado.

Sobre o Livro: Uma ecologia Decolonial – UBU Editora, 2022

É para cuidar da ferida aberta pelas inúmeras crises engendradas pelo sistema capitalista que o martinicano Malcom Ferdinand propõe uma ecologia decolonial, uma abordagem interseccional extremamente sagaz que reúne o ecológico com o pensamento decolonial, antirracista, em uma crítica contundente ao “habitar colonial da Terra”. Nesta análise urgente, Ferdinand critica o que chama de “dupla fratura colonial e ambiental da modernidade”, de que resultam, por um lado, as teorias ecologistas que desconsideram o legado do colonialismo e da escravidão; por outro, os movimentos sociais e antirracistas que negligenciam a questão animal e ambiental. Como mostra o autor, tal fratura só enfraquece as demandas desses movimentos, uma vez que a exploração do ser humano e da natureza caminham lado a lado. Para tanto, escolhe como centro de seu pensamento as regiões caribenhas, com seus modos de vida crioulos e suas formas de resistência – entre elas a marronagem, uma estratégia de aquilombamento para fora do mundo colonial. Com um prefácio de Angela Davis que situa historicamente o conceito de justiça ambiental, esta obra oferece uma aproximação para pensar um navio-mundo que não mais atire algumas pessoas no porão, condenando-as a uma sobrevida precária sujeita a doenças, fome e morte, enquanto oferece a outras a perspectiva de uma viagem segura e lucrativa no convés, possibilitada justamente pelo assujeitamento daqueles que ficaram condenados ao porão, em uma metáfora do que acontece até hoje na sociedade.

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