Milagres da Virgem de Lidón, Pintura religiosa, séc. XVII

Resumo descritivo

Pintura com agradecimentos aos milagres ocorridos por intercessão da Virgem de Lidón, com representação de vestimentas e manto semelhantes aos da Virgem da Candelária. Segundo a tradição espanhola, um lavrador, Perot (Pedro) de Granyana, encontrou uma imagem da Virgem quando cavava o campo junto a uma castanheira (almez). Levada às autoridades eclesiásticas, a imagem retornava ao local onde construíram uma capela em 1366, e a denominaram de La Mare de Deu del Lledó, patrona de Castellon de la Plata, nos arredores de Valência. A imagem encontrada é de alabastro, medindo 60 centímetros, porém é representada com o manto.

A pintura, a exemplo de um ex-voto, mostra os milagres atribuídos à Virgem de Lidón. Na parte central, a Virgem aparece sobre uma peanha barroca exposta em um altar, iluminada pelas candeias pendentes dos lampadários de prata. Dois anjos voantes seguram os raios fulgurantes dos quais nascem estrelas. As vestimentas estão ricamente ornadas com cordões de pérolas. A excepcionalidade encontra-se na cabeça coroada da Virgem, que veste um toucado monástico rendado emoldurando triplamente seu rosto, seguido de uma iluminada auréola que destaca a coroa e, por fim, os raios do resplendor ampliando o círculo, símbolo de perfeição. Jarrões com flores destacando as açucenas lembram a sua pureza, e uma cabeça de anjo emana de nuvens e da Lua crescente, tendo o globo terrestre como referência à proteção das viagens segundo invocação jesuítica que percorreram o mundo a divulgar a fé.

As cenas dos milagres apresentam as visões que os suplicantes fiéis tiveram da Virgem no momento da invocação. Essas invocações constam nos antigos cânticos de proteção rezados nas procissões. A cena horizontal acima mostra o milagre do encontro da imagem pelo lavrador Perot de Granyana, tendo ao fundo as árvores de castanhas e sua casa no campo. Segundo o cântico, Virgem santa de Lidón, um lavrador tão abençoado teve um devoto achado, e a esta vila logrou apadroar... Na cena inferior, um nobre domina uma cobra imensa. O fato é evocado no cântico: ... e as feras do abismo com que com vosso nome aterrorizais.

Nas cenas verticais da esquerda acima, a Virgem aparece para cristãos que foram salvos da masmorra nas quais os mouros os mantinham aprisionados. Na cena central da esquerda, um padre assiste um casal com o filho que acabara de morrer e a Virgem o ressuscita. É chamado de milagre do menino de Valladolid. Abaixo, o milagre ocorre diante do altar da Virgem de Lidón, uma mulher ampara Nauar, suplicante que viera rastejando-se pedir sua cura.

No lado direito acima, a Virgem aparece no momento em que um homem foi atingido e morto por um raio. Diz o cântico: Protege nossos campos e bendize nossa terra, leve daqui a guerra, fome, peste e relâmpagos. Na cena central, um jovem agraciado leva uma pintura da Virgem como ex-voto a uma igreja. Por fim, a cena inferior mostra um homem a ser enforcado, tendo um padre ao seu lado e o carrasco.

Para todas as cenas há tarjas explicativas sobre os fatos milagrosos. As cercaduras das tarjas são de cunho erudito do estilo barroco, assim como as roupas da Virgem. Também a perspectiva é aplicada de maneira escolar. Nas cartelas, pouco se lê: na primeira acima, apenas o nome do lavrador que encontrou a imagem, Pedro; na primeira à esquerda, aparece poder de Moros; na primeira cena à direita, só restou Señora e, na segunda, sendo levada a pintura da Virgem, apenas a palavra Acojen. No verso da pintura há observações sobre os milagres da Virgem de Lidón, retirados de uma pintura do museu de Sucre, na Bolívia.