O esmerado relevo em madeira dourada mostra o evangelista sentado, com um dos braços sobre um fragmento de coluna (o mundo antigo) e um livro aberto (o Evangelho no qual conta as parábolas de Jesus), e o anjo. Esse último é um dos símbolos dos evangelistas – tetramorfos –, sendo o anjo para Mateus, o leão para Marcos, a águia para João Evangelista e o touro para Lucas. Aqui, o anjo tanto aponta para o livro, incitando-o às escritas do Evangelho, como, com a mão direita, mostra o alto, de onde virá a inspiração. Há uma triangulação compositiva entre os olhares dos personagens e os braços e mãos que se cruzam sobre as páginas abertas do livro. As roupagens de ambos são ricas, movimentadas, e acompanham o douramento do fundo, com minúsculos riscados à guisa de sombreado para o relevo muito raso.
Fragmento de relevo entalhado sobre madeira circular na parte superior. Peça retirada de altar, possível portinhola de falso sacrário, o que ocorre nos altares laterais para manter a composição similar ao retábulo-mor. A cena que mais se aproxima a um anjo inspirando a escrita sagrada é a do evangelista São Mateus. Era um hebreu que trabalhava na coleta de impostos para os romanos antes de receber o chamado de Cristo para ser um de seus apóstolos. O chamado foi lacônico: Segui-me (Mt 9: 9).
RÉAU, Louis. Iconografía del arte cristiano. Iconografía del aarte cristiano. Iconografía de los santos. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2008. v. 3, t. 2, p. 459-472.
