Sapataria de São Crispim e São Crispiniano, Pintura religiosa, séc. XVIII

Resumo descritivo

Os santos patronos dos ofícios são da tradição medieval, do tempo em que os ofícios eram divididos em guildas, ou seja, corporações mantidas pelo pagamento dos artífices dos diversos ofícios. Aquelas guildas tinham suas invocações e mantinham dentro das igrejas altares para seus patronos. Na Península Ibérica, e esta tradição passou para as Américas espanhola e portuguesa, os ofícios agremiavam artesãos, artífices e artistas, como Aleijadinho, pertencente ao ofício de marceneiros, sendo São José o patrono. Os pintores agremiavam-se sob a paleta de São Lucas, o pintor do primeiro retrato de Maria e dos ourives abençoados por Santo Elói.

A espacialidade desta pintura é de cunho popular. O artesão recorre à perspectiva primitiva, exemplificada na ampla mesa sobre a qual os santos irmãos Crispim e Crispiniano, mártires romanos, dialogam a respeito do couro a ser cortado para a feitura de calçados. Em recurso de perspectiva simbólica – o tamanho dos representados segue a hierarquia de posições –, dois pequenos aprendizes confeccionam sobre uma bancada com forma de sapatos e instrumentos. Sendo os santos protetores da guilda, são maiores que o Cristo e o diminuto clérigo ajoelhado calçando os pés sagrados. Todas as ações têm as bênçãos do Espírito Santo, que desce dos céus em companhia de um anjinho seminu guiado por um báculo em uma mão, enquanto a outra se ocupa em carregar a alegoria de uma construção em madeira de pequena capela. A festa dos irmãos mártires que foram degolados por soldados romanos é celebrada no dia 25 de outubro.