Santa Bárbara, Pintura religiosa, séc. XVII

Resumo descritivo

Santa Bárbara é cultuada nas religiões católica, anglicana e ortodoxa, além de seu sincretismo religioso nas religiões afro-brasileiras. Sua iconografia é mais conhecida do que sua hagiografia – vida dos santos –, pois fora martirizada no início da era cristã. É representada com ricas vestes, como nesta pintura, com saia longa com bordados dourados, sobressaia e manto avermelhados. Sua figura domina todo o espaço, que é dividido com uma torre de porta em arco romano. No topo, três janelas com labaredas sendo expelidas. Nas mãos, leva a palma do martírio e o livro com os ensinamentos cristãos que recebera. Por vezes está coroada, aludindo à sua nobreza. Fogo e raio são constantes nas representações que a mostram como protetora contra os raios nas tempestades e dos ofícios que lidam com explosivos.

Esta composição andina tem como referencial as pinturas espanholas que apresentam os santos com grande eloquência, à maneira de Francisco de Zurbarán (1598-1664), cujas obras podiam ser admiradas em Lima, capital do vice-reinado do Peru. O segundo plano liso, sempre pouco modelado por matizes escuros evidenciando a figura mais clara, foi nominado de tenebrismo. A ausência de coloração contrapõe-se às tonalidades vibrantes flamengas e maneiristas italianas do início da escola cusquenha de pintura.

Diz sua vida lendária que seu pai, nobre habitante de Nicomédia, cidade romana do Oriente Médio, construiu uma torre com duas janelas para isolar sua filha da sociedade, tamanha era sua beleza, como mostra a pintura. Em visita ao seu pai, teve contato com cristãos que a converteram. Decidiu, então, abrir uma terceira janela na torre, alusiva à Santíssima Trindade. O pai, ao saber desse intuito, furioso, delatou-a às autoridades romanas, que a condenaram à morte. Com fé inabalável, suportou os suplícios e foi degolada pelo próprio pai, que naquele momento foi fulminado por um raio.