Número de registro
107
Denominação
Classificação/Tipologia
Movimentação
Tipo de movimentação
Exposição de longa duração
Local atual
Sala 05 Minas Gerais e Arte Popular, Vitrine 12, Nicho 16
Resumo descritivo
A devoção a São Cristóvão (Caná, séc. 3 – Lícia, Turquia), o gigante que carregou Cristo nas costas, ocupa lugar de destaque nas catedrais espanholas e naquelas dos vice-reinados latino-americanos. Os afrescos com o gigante de 2,3 metros estão em lugares de grande visibilidade, como na Catedral de Sevilha, ao lado do túmulo de Cristóvão Colombo, o descobridor das Américas. Segundo a “Legenda Áurea”, de Jacopo de Varazze, Réprobo servia ao rei de Caná, temente de satanás. Como gostaria de servir ao mais poderoso rei, resolveu então servir a satanás. Encontrou bandoleiros e, como o chefe disse ser satanás, seguiu-os. Depois, viu esse homem benzer-se diante de uma cruz em uma encruzilhada e resolveu procurar quem a colocara ali. Encontrou um ermitão que lhe disse que, pela sua força, a melhor maneira de servir a Cristo seria transportar as pessoas de uma margem à outra do caudaloso rio.
Certa ocasião, apareceu um menino que, ao ser transportado nas suas costas, começou a pesar. Na outra margem, afirmou ao garoto que parecia ter transportado todo o peso no mundo. O menino, que era Cristo, lhe disse que, a partir daquele momento, se chamaria Cristóvão, o portador de Cristo. Depois de seu batismo, foi pregar na Ásia Menor. Condenado pelo rei pagão Dagón, resistiu ao ataque de 40 arqueiros e ao suplício de queimaduras em uma cadeira de metal. Antes de ser decapitado, disse ao rei, que estava com o olho ferido, que tomasse o sangue que saísse de seu corpo, colocasse um pouco de terra e passasse no olho. Ocorreu o milagre, e Dagón converteu-se ao cristianismo, com todo o seu reino.
Sua iconografia é sempre facilmente reconhecida: um gigante com o menino Jesus em seus ombros atravessando o rio. Por vezes, tem como cajado um tronco de árvore. A escultura do santo executada pelo artista espanhol Juan Martínez Montañés (1597), que se encontra na Igreja do Salvador em Sevilha, tornou-se modelo. Celebra-se em 25 de julho sua festa, tão comemorada pelos motoristas.
Esta escultura de São Cristóvão, de tamanho médio, condiz com o tema: o gigante que transportou, de uma margem à outra, o menino Jesus. O antigo soldado traja saiote vermelho e, no peito, uma armadura ornamentada com desenhos dourados. São Cristóvão caminha sobre as águas ondulantes simuladas na base, que sustenta com firmeza seus pés, guiados por amplo cajado. O corpo se alonga, porém é na cabeça que o artesão concentra o conceito de gigantismo, de força, pois Réprobo, seu antigo nome, acabara de carregar o mundo em suas costas, tamanho era o peso do menino transportado. Jesus, em forma de criança, carrega o globo terrestre na mão esquerda, enquanto abençoa o mundo com a mão direita.
Palavra do colecionador
“Quando compramos esta imagem, faltava-lhe o menino Jesus. A imagem, importante, ficava incompleta e sem graça. Foi a única vez que mandei esculpir um Menino para completar uma imagem. Três escultores da região de Ouro Preto tentaram sucessivamente executar o trabalho e produziram Meninos malfeitos e pequenos demais, que não serviam. Resolvi então esculpir, eu mesmo, um modelo do Menino do tamanho certo, com argila de Mariana, pintada com guache. Assim mesmo não conseguiram. Instalei então a minha ‘obra’ no ombro do Santo, e está lá até hoje.” (Jacques Boulieu, 21 de setembro de 2020)
Data de produção
Técnica
Local de produção
Anotações do Colecionador
S Cristovão, madeira policromadas e dourada, caminhando, inclinado para tràs. O menino Jesus original foi perdido e substituido por um menino novo, de argila.
Bibliografia
DUCHET-SUCHAUX, Gaston. The Bible and the saints. Flammarion Iconographic Guides. Paris: Flammarion, 1994. p. 89-90.
RÉAU, Louis. Iconografía del arte cristiano. Iconografía de los santos. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2001. v. 3, t. 2, p. 354-363.
VARAZZE, Jacopo. Legenda áurea – vidas de santos. Tradução: Hilário Franco Júnior. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 571-575.