Cristo diante de Herodes Antipas, Pintura religiosa, séc. XVII

Resumo descritivo

A composição de Cristo diante de Herodes Antipas mostra Jesus ladeado por três soldados diante do rei dos galileus, Herodes Antipas, que está sentado no trono aconselhado por um sacerdote. Esta cena se refere ao cumprimento da ordem do governador romano Pôncio Pilatos para que Cristo fosse julgado por Herodes. A cena representa o momento em que Herodes não está satisfeito de sua curiosidade em saber quem era o Cristo. Ao vê-lo, Herodes muito se alegrou, pois há bastante tempo desejava vê-lo, pois tinha ouvido falar dele e esperava presenciar algum milagre feito por ele. Pôs-lhe muitas perguntas, mas ele nada respondeu. Herodes desprezou-o diante de seus guardas e mandou vestir-lhe uma túnica branca e o enviou de volta a Pilatos (Lc. 23: 9-11).

A decepção de Herodes se materializa ao rasgar suas vestes; sua curiosidade era grande, pois desde pequeno soubera que seu pai quisera matar Jesus, ocasionando a matança dos inocentes e a fuga para o Egito. Sentado no trono, com os pés cruzados como requer a pose real, sua face está colérica, e ele necessita de um conselheiro para acalmá-lo, colocando as duas mãos sobre seu ombro. O Cristo, por sua vez, já com a túnica branca que Herodes ordenou vesti-lo, volta a cabeça para o lado oposto à presença do rei curioso, olhando para fora do quadro. Um dos soldados que o escoltam adverte a Cristo que responda às perguntas; outro mira-o a desafiar; e o maior, na borda compositiva, prepara-se, com uma lança em punho, para devolvê-lo a Pilatos.

Esta pintura catequética servia de ensinamento dos passos da Paixão de Cristo e de advertência sobre fatos como a traição, o julgamento e a curiosidade. Com parcos recursos de perspectiva, apresenta os degraus arredondados sobre os quais está o trono, guarnecido por rico dossel com lambrequins e borlas. O mesmo ocorre com os capitéis das colunas palacianas com traços barrocos. Para os espanhóis conquistadores das Américas, as vestimentas eram símbolo de distinção social, assim como os chapéus, que aqui são a coroa caricata de Herodes, os turbantes do conselheiro e de um soldado e as armaduras dos três soldados. Esse modelo de armaduras é semelhante ao utilizado pelos primeiros conquistadores espanhóis, portanto atemporal e talvez imbuído de certa crítica, mesmo que inconsciente. Era símbolo de repressão, julgamento e poder no período da conquista.