Número de registro
523
Denominação
Classificação/Tipologia
Movimentação
Tipo de movimentação
Exposição de longa duração
Local atual
Sala 03 América Latina, Vitrine 05, Lado A, 2ª prateleira direita
Resumo descritivo
Escultura em madeira feita em um só bloco, com vestígios de policromia. A escultura de Nossa Senhora de Copacabana, venerada num grande santuário às margens do lago Titicaca, do lado boliviano, é, segundo a lenda, obra de Tito Yupanqui, descendente da antiga realeza inca. Teria o indígena pedido as bençãos da Virgem da Candelária para que ela protegesse seu povo e a lavoura de secas e tempestades, além de geadas e chuvas de granizo, a fim de obter boas colheitas. Como agradecimento, esculpiria uma imagem de Nossa Senhora e a colocaria em uma igreja.
Conseguida a graça, passou a esculpir as imagens, que eram motivo de chacota de todos. Resolveu aperfeiçoar-se em Potosí, onde havia ateliês de escultura e pintura. Lá executou uma imagem e, ao mostrá-la ao bispo de Chuquisaca, atual Sucre, para permitir a veneração e fundar uma confraria religiosa, foi surpreendido pelo desdém do religioso. Não desanimando, esculpiu outra e, para melhorá-la, levou a um dourador. Teve a permissão de fundar sua confraria, mas a imagem, mesmo dourada, não foi aceita pelos indígenas Urinsaias, que desejavam como patrono São Sebastião.
Para evitar contendas, foi aconselhado a vender a imagem. Porém algo milagroso começou a ocorrer, pois da imagem surgiram raios luminosos, o que chamou atenção do padre Francisco Navarrete, que a abençoou e levou para outra localidade, em Copacabana. A imagem foi entronizada solenemente com uma procissão no dia de Nossa Senhora da Candelária, 2 de fevereiro de 1583. A intransigência dos caciques fora vencida e, entre a multidão, encontrava-se o índio Francisco Tito Yupanqui.
A iconografia de Nossa Senhora de Copacabana é semelhante à da Virgem da Candelária. A obra de Yupanqui difere pelas feições indígenas; no mais, leva o menino Jesus em seu braço esquerdo e uma vela na mão direita. O Menino está sentado em seu braço e traja uma longa túnica. A Virgem de Yupanqui prioriza a longa túnica branca com desenhos de florais na parte frontal. Nesta obra, a túnica é mais aparente, diluindo a importância da túnica que aparece na parte superior acima da cintura, com repuxados entre os seios. O véu da Virgem original boliviana é solene e envolve a cabeça, formando uma proteção para o colo junto ao Menino. Nesta escultura da Coleção Boulieu, o manto ergue-se até a cabeça, formando, na parte posterior, uma grande proteção da cabeça aos pés.
No Brasil, uma imagem em prata foi trazida para o Rio de Janeiro pelos prateiros que comercializavam a prata de Potosí no final do século 16. Permaneceu na Igreja da Misericórdia até ser substituída, em 1638, por uma imagem lisboeta da Virgem do Bom Sucesso. A imagem ganhou uma igrejinha em um ponto distante da cidade e, em 1732, estava em ruínas. Por graça alcançada, o bispo Dom Antônio do Desterro a recuperou. No segundo império, o imperador Dom Pedro II, em visita àquela longínqua praia em 1858, apiedou-se da pequena capela e financiou uma remodelação. A igreja foi demolida para abrigar um quartel, e a imagem passou para as mãos de particulares, retornando apenas em 1953 a uma capela junto ao quartel-general da Artilharia da Costa. Nos traslados da imagem em prata, senhoras bolivianas edificaram um templo em 1943 na Praça Sezefredo Correia. Lá depositaram uma escultura semelhante àquela de Tito Yupanqui, com feições indígenas, e a coroa em ouro maciço está cravejada de pedras preciosas, oferta das senhoras brasileiras. A distante praia carioca ganhou o nome da Virgem de Copacabana.
Material
Data de produção
Técnica
Local de produção
Anotações do Colecionador
Escultura em madeira escura patinada com base quadrada
Bibliografia
GISBERT, Teresa. Iconografía y mitos indígenas en el arte. La Paz: Gisbert y Cia, 2008. p. 51-82.
MEGALE, Nilza Botelho. Invocações da Virgem Maria no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1998. p. 167-170.