Ecce Homo, Pintura religiosa, séc. XVII

Resumo descritivo

Ecce Homo – Eis o Homem – é uma das cenas dos passos da Paixão, celebrada com dramaticidade desde o período medieval. No Renascimento, ganhou contornos de extrema clareza com a pintura de Antonello da Messina (1430-1479), entre tantos outros artistas, e, já no barroco, com a de Guido Reni (1575-1642). Mais próximo dos modelos difundidos na América espanhola é o Cristo de Bartolomé Murillo (1617-1682). Nesta pintura, o modelo é dramatizado pelo manto vermelho mais aberto, deixando mostrar as chagas logo depois da flagelação. Esse é um ponto aflitivo da condenação, o momento humilhante, quando Cristo é coroado de espinhos e recebe dos algozes um caniço como cetro, rei dos judeus.

No Evangelho de São Mateus, assim está descrito: Coroado de espinhos. Os soldados do governador, conduzindo Jesus ao pretório, reuniram em volta dele todo o batalhão. E, tirando-lhe as vestes, jogaram-lhe um manto de púrpura. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe na cabeça e na mão direita uma cana (Mt 27: 27, 29).

O artífice da pintura piedosa popular concentrou a dramaticidade da cena descrita por São Mateus no peito do Cristo flagelado. As pinceladas são rápidas e os escorridos do sangue são ampliados, provocando maior comoção no fiel. A face ensanguentada amplia esse sentimento, pois Cristo olha para o alto, suplicando forças para cumprir a missão que está por vir, morrer crucificado. A coroa de espinhos está neutralizada pela coloração azulada do fundo. Os resplendores dourados não deixam dúvida de que o modelo foi uma escultura, talvez uma escultura da procissão dos passos.

O quadro foi adquirido em Tiahuanaco (sítio arqueológico na Bolívia), informa o colecionador Jacques Boulieu.