Número de registro
156
Denominação
Classificação/Tipologia
Movimentação
Tipo de movimentação
Exposição de longa duração
Local atual
Sala 05 Minas Gerais e Arte Popular, Vitrine 12, Nicho 5
Resumo descritivo
O mártir São Jorge (Capadócia, ca. 270 – Palestina, ca. 303) – Georgius vem de geo, terra, e orge, cultivar, cultivando a terra – era filho de um oficial romano que cresceu com sua mãe na Palestina dentro da fé cristã. Seguindo a influência do pai, tornou-se tribuno militar em Nicomédia, chegando ao posto da guarda do imperador Diocleciano. Iniciada a perseguição aos cristãos pelo imperador, renunciou à milícia, repartiu seus bens e dedicou-se à pregação do cristianismo. Foi perseguido e torturado de diversas maneiras, envenenado, amarrado, queimado, sem renunciar à fé. Segundo fatos fantasiosos, teria morrido e ressuscitado. Finalmente foi decapitado por Daciano depois de ter convertido sua mulher, que também foi martirizada. Foi enterrado em Lydda, atual Israel.
A iconografia de São Jorge está definitivamente ligada à morte do dragão, louvada por artistas de todos os períodos artísticos. Reza a lenda que um dragão que vivia em um lago em Silca exigia como alimento uma ovelha ou uma virgem. Por sorteio, a filha do rei foi escolhida. Ao saber do fato, Jorge, o cavaleiro, se ofereceu para enfrentar o dragão em nome de Deus. Deu um cinturão à virgem, com o qual amarrou o dragão, assim apresentado ao rei e ao povo. Ao matá-lo com uma espada (ou lança), todo o reino se converteu ao cristianismo. Esses fatos se confundem com o mito de Perseu e Andrômeda ou ainda o do arcanjo Gabriel matando Lúcifer.
Seu culto foi difundido no Oriente pela Igreja Ortodoxa. No Ocidente, era cultuado como defensor da fé, popularizado entre as hostes das cruzadas. Com as vitórias dos muçulmanos, seu prestígio declinou. Porém, quando os cristãos reconquistaram os lugares santos, recuperaram suas relíquias, e vários reinos decretaram que São Jorge fosse o patrono de seus exércitos, como os de Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, Maximiliano I, dos Habsburgos, a coroa de Aragão e Jaime I de Valência, que teria tido sua ajuda para a conquista. Na Espanha e na América espanhola, a iconografia de São Jorge mesclou-se com a de Santiago, conhecido como Santiago Mata-Mouros. O santo apóstolo, montado em seu cavalo, desfere um golpe de espada no mouro caído. Como São Miguel, é pintado sem as asas. Seus atributos são: o cavalo, a donzela, o dragão, o escudo com a cruz de São Jorge, a espada, o estandarte branco com uma cruz vermelha, a lança e uma serpente. No candomblé baiano, é identificado como Oxóssi e Odé. Nas macumbas fluminense e pernambucana, é chamado de Ogum.
Esta esmerada escultura de São Jorge apresenta o santo soldado sobre o cavalo branco prestes a matar o dragão. As três figuras – o soldado, o cavalo e a fera –estão posicionadas sobre uma elevada base octogonal; o santo tem o privilégio de vulto ampliado, como merece o herói que mata com uma lança a fera sob as patas do cavalo. As vestimentas do herói são detalhadas: botas, calças compridas, mangas compridas, armadura de soldado, capa e elmo. O olhar fixo fita a fera, que se revolve entre as patas do cavalo, o qual procura se livrar do dragão. As cores são harmoniosas, com o intuito de destacar cada figura: o cavalo branco simbolizando a salvação da virgem que seria sacrificada; a fera, com a ausência de cor, saída das profundezas; e o dourado que predomina na armadura e no elmo do santo iluminado, pleno de luz, vitorioso em seu ato heroico ao vencer a escuridão do medo que emergia das entranhas da terra.
Material
Data de produção
Técnica
Local de produção
Anotações do Colecionador
Imagem ingenua de S Jorge cavalgando e matando o dragão. Madeira policromada, cores vivas, pedestal alto, quatro niveis. Peça ingenua do inicio do século XX. O Santo veste o uniforme de um soldado romano
Bibliografia
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Editora Global, 2000. p. 309.
DUCHET-SUCHAUX, Gaston. The Bible and the saints. Flammarion Iconographic Guides. Paris: Flammarion, 1994. p. 158-159.
ESCUDERO, Lorenzo de la Plaza et alii. Guía para identificar los santos de la iconografía cristiana. Madrid: Cuadernos Arte Cátedra, 2018. p. 177-179.
RÉAU, Louis. Iconografía del arte cristiano. Iconografía de los santos. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2001. v. 4, t. 2, p. 153-162.
VARAZZE, Jacopo. Legenda áurea – vidas de santos. Tradução: Hilário Franco Júnior. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 365-370.