Relevo em madeira natural entalhada, oval, originalmente portinhola de sacrário – há marcos do orifício da fechadura e as dobradiças de metal. O artesão logrou condensar a cena da sagrada ceia apenas na figura de Cristo. Com habilidade, coloca a mesa, pequena, em primeiro plano, em uma perspectiva com o ponto de fuga acima do olhar do espectador, criando um amplo espaço para simular a mesa coberta com pesada toalha. Sobre o móvel, coloca um pedaço do pão repartido com uma faca e um prato com pedaços de alimento. A outra parte do pão, seu corpo consagrado, o Cristo oferece com a mão esquerda ao fiel. A parte faltante, na mão direita, poderia ser outro atributo da cena da sagrada ceia, o cálice com o vinho – aqui seria um copo talvez.
Seguindo a tradição da escultura pernambucana, os tecidos esvoaçantes, enfunados em direções contrárias, ganham aqui um aliado, o tecido da mesa. Formando vários “Vs”, a toalha ganha força no primeiro plano e rima com as vestimentas de Cristo, movimentadas para os lados. A túnica em “V” menor cria a sensação de distanciamento. A cabeça de Jesus pende para o lado direito, seguindo a linha diagonal da prega da túnica. A cabeleira é volumosa e as mechas caem sobre os ombros. O rosto é afilado e amplia-se com as linhas radiantes do resplendor.
No verso da portinhola, a face voltada para dentro do sacrário, em contato com a âmbula, há uma surpreendente pintura com fundo vermelho e aplicação de dourado nos ornamentos florais. No centro há um girassol, flor símbolo da adoração, do voltar-se para a luz.
