Esta cena da apresentação de Jesus no templo mostra uma das mais antigas festas da cristandade. Depois de 40 dias, Maria é purificada e o Menino é apresentado no templo segundo as tradições judaicas. Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na lei de Deus: Todo o primogênito varão será consagrado ao Senhor e para oferecerem em sacrifício, como se diz na lei do Senhor, um par de rolas ou duas pombinhas (Lc. 2, 22-24).
O pai, José, de joelhos, oferece em sacrifício duas pombas, pois não tinham posses para ofertar um cordeiro. Simeão, um velho sacerdote que aguardava a vinda do Messias, ouve o chamado do Espírito Santo – nesta cena em forma de raios que passam pela janela circular da coluna – e vai ao templo. Sobre os degraus e sob o pálio do trono, ergue os olhos aos céus e agradece por ser ele o escolhido para reconhecer a vinda de Cristo.
As três mulheres que fazem fundo distinguindo a figura paterna são Maria, a mãe, com as mãos postas em prece pela sua purificação; atrás dela, Ana, a velha que morava no templo e aguardava também a vinda de Jesus; e uma mulher em prece com as mãos cruzadas. A criança que segura a vela simboliza a caminhada que Maria fez para sua purificação. Também é uma tradição de uma festa pagã romana que ocorria de madrugada, com tochas, em culto à deusa da agricultura, Ceres. A procissão foi cristianizada em 542 por Justiniano I no Oriente, e em Portugal no século 13. As denominações variam entre Festa da Purificação, das Candeias e Nossa Senhora da Luz. A festa ocorre no início de fevereiro.
A composição esforça-se para descrever um local solene por meio de uma coluna, a do Templo de Salomão, o trono do sumo sacerdote com tecidos de coloração cardinalícia, vermelho intenso na maior luminosidade e tonalidade rebaixada na sombra coincidente com a linha da perspectiva mostrando profundidade. O ambiente introspectivo do templo é escuro, e a coluna, mais clara, a imitar pedra, prepara a luminosidade intensa, indicando o caminho percorrido. As personagens estão vestidas com túnicas e mantos com leves panejamentos. Esse recurso de tecidos planos auxilia na colocação dos desenhos padronizados aplicados com dourado. Cada figura recebe um arranjo de “douramento” diferente em suas vestes, recombinando o padrão, tal como ocorre nos esgrafiados das esculturas.
Apresentação de Jesus ao templo, elementos de arquitetura, personagens em roupas douradas
Bibliografia
RÉAU, Louis. La circuncisión y la presentación de Jesús en el templo. In: Iconografía del arte cristiano. Iconografía de la Biblia. Nuevo Testamento. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2008. v. 2, t. 1, p. 267-272.
