Anunciação à Maria, Pintura religiosa, séc. XVII

Resumo descritivo

A anunciação a Maria pelo arcanjo Gabriel é aqui vista de maneira muito aproximada, sem os elementos cênicos do ambiente no qual se deu o fato. Apenas o cesto com os fios a ser tecidos ajuda a suportar um rolo de nuvem. O arcanjo, ajoelhado sobre espessa nuvem, mostra o ramo com açucenas, símbolo de virgindade daquela que será concebida pelo Espírito Santo. O mistério da concepção é algo extraordinário, advindo de uma luminosidade amarelada acompanhada de raios esbranquiçados. A mensagem, por meio do gesto da mão direita do anunciador, destaca-se na claridade. As faces das figuras são delicadas e expressivas nos olhares. O rosto da Virgem tem elaborado trabalho de sfumato marcando sua rotundidade.

As posições dos personagens seguem não apenas a iconografia, mas também o simbolismo. O arcanjo ajoelhado sobre nuvens mostra que Gabriel abdica de sua condição triunfante para ser um arcanjo emissor da vontade divina. A iconografia do arcanjo sobre nuvens foi difundida após o Concílio de Trento (1563). Apenas um lírio aberto mostra que a concepção de Maria foi virginal, e os dois botões fechados, que continuará virgem ao aceitar a concepção de Cristo e em seu nascimento. A presença do Espírito Santo em forma de pomba confirma os dizeres: O Espírito Santo te cobrirá com sua sombra. De mãos postas, a Virgem é a receptora da mensagem e bendiz sua missão confirmada pelo olhar baixo.

A aplicação quase excessiva do dourado – chamado brocadero – sobre as vestimentas está em conformidade com a coloração amarelada que domina a composição, iluminando esse sublime e glorioso evento. Essa delicada anunciação pode ser admirada como a parte central de um quadro que sofreu perdas em suas bordas. A composição em aproximação excessiva da cena indica a falta de partes do arcanjo e até mesmo do manto de Maria. O gosto pelo recurso do brocadero foi amplo na escola quitenha de pintura, na qual se imitavam na pintura os ornamentos das vestimentas das esculturas.