Esta pintura da Imaculada Conceição é de iconografia reduzida – apenas meio corpo, a pomba do Espírito Santo e as flores – e mostra uma Virgem elegante e charmosa usando colares. São obras para o culto particular, para exposição na intimidade, como nos quartos. São pinturas piedosas, sem o requinte da plástica maneirista e os dramas do barroco com cores escuras e expressões excessivas das mater dolorosas.
Aqui, sem a cenografia que os Evangelhos descrevem com a visita do arcanjo, o artista coloca o mesmo tema de forma sintética. O gesto de inclinação da cabeça é de interrogação, e o olhar distante elucida o mistério da concepção. O colar de pérolas e a gola bordada da túnica indicam sua ascendência e educação que recebera no templo dos 3 aos 14 anos de idade. As açucenas brancas, que o arcanjo Gabriel traz nas representações habituais, mostram sua pureza, e as rosas são de sua ladainha rosa mística. Apenas uma açucena está aberta, remetendo à sua concepção, e os dois botões fechados simbolizam que sua virgindade continuará na concepção de Cristo e em seu nascimento.
Da cena da anunciação é a pomba do Espírito Santo, que entra no ambiente em que Maria ora. A simbologia da pomba, pela sua doçura e alvura imaculada, era do pássaro da deusa Vênus e converteu-se nos símbolos de Cristo e, especialmente, do Espírito Santo. Do símbolo da deusa grega do amor, passa a ser o emblema de castidade, inocência e fidelidade conjugal. Também é símbolo da Igreja; segundo explicações sobre suas patas vermelhas, como se nota no quadro, estariam tingidas pelo sangue dos mártires que a auxiliam na marcha sobre o mundo. Da Virgem do Apocalipse, o artista colocou as 12 estrelas entre os raios de sol em forma de auréola. O nariz afilado, os olhos sob delineadas sobrancelhas e os lábios cordiformes diminutos certamente são do referencial de alguma estampa.
