Este arcanjo, denominado Asiel, está representado como arcabuzeiro, o temor de Deus. Os arcanjos arcabuzeiros andinos
são o sincretismo do Illapa ou Libiac, a divindade do raio. O estrondo do arcabuz lembra o estrondo do trovão e
rememora a luta entre as hostes celestes e a expulsão dos anjos caídos ao inferno. Bastante conhecido em toda a região do
vice-reinado do Peru, em especial na região da Bolívia próxima ao lago Titicaca, Asiel está vestido com roupas das milícias
espanholas e flamengas do século 17 usadas durante a conquista das terras americanas. As asas coloridas são típicas do
imaginário andino, imitando as asas sagradas dos papagaios. Nos Andes, quanto mais colorida, mais rica e divina é a entidade. As
cores azuis e vermelhas eram usadas só pelas nobrezas andinas.
O arcanjo segura, com a mão direita, a arma que descansa sobre o ombro (arcabuz ou mosquete) e, com a esquerda, um cordão
(mecha) que era aceso com fogo nas duas pontas para efetuar o disparo. Em alguns anjos, é trocada por uma waraka ou huaraca,
arma de tecido para lançar pedras, usada pelos exércitos andinos e, principalmente, pelo Illapa ou Libiac para quebrar o céu e fazer
chover. A atitude das pernas é de descanso, e o olhar volta-se fixo ao fiel. Os gestos são amplos, com dignidade proporcionada
pelo fundo escuro, destacando os ricos tecidos adamascados do saiote e da ampla capa, que contrastam com a delicadeza dos
brancos azulados das vaporosas mangas e do peitoral.
