Número de registro
442
Denominação
Classificação/Tipologia
Movimentação
Tipo de movimentação
Exposição de longa duração
Local atual
Sala 03 América Latina, Vitrine 03, 1ª prateleira
Resumo descritivo
Esta Virgem Maria, de excelente feitura, é, das peças de presépio, a mais expressiva da Coleção Boulieu. O natural gesto de aproximar-se do menino Jesus envolve todo o seu corpo: o joelho fletido próximo ao solo, os braços estendidos, os dedos das mãos prestes a tocar a criança e a inclinação da cabeça que confirma o olhar carinhoso dos olhos semicerrados em busca do rebento divino. Suas vestimentas são de tecidos esvoaçantes, finos, a julgar pelas dobras que se multiplicam insufladas por um hipotético e suave vento. O panejamento da túnica acaricia as formas da Virgem. Desce tremulante, enquanto o tecido mais pesado do manto cria volteios na base e se lança em grande dobra na face posterior. As feições virginais merecem atenção pela placidez, proporções exatas entre os olhos amendoados, nariz perfeito e lábios a evocar a beleza eterna. Seus cabelos bipartidos partem da fronte iluminada e se juntam ondulantes às estrias do tecido prateado que envolve seu colo.
A policromia é discreta, adequada à ocasião de extrema simplicidade, dentro de um estábulo. A tonalidade terrosa domina toda a vestimenta, e o roseado do rosto e das mãos destaca as partes principais da carnação. Há vestígios da pintura com leves pinceladas mostrando os cílios. O aplique de fundo dourado possibilitou os esgrafitos na túnica, e a aplicação da prata deu brilho ao tecido ao redor do colo. As ondulações da vastíssima cabeleira sobre as costas completam a beleza, o apuro técnico. Diferentemente do anonimato característico dos autores coloniais latino-americanos, tudo isso nos leva, com pouca possibilidade de erro, a atribuir esta rara peça como oriunda das oficinas de Bernardo de Legarda.
Bernardo de Legarda foi um dos mais influentes artistas da Escola Quitenha de Imaginária do século 18, detentor de uma grande quantidade de “lojas-oficinas” com mão de obra especializada para atender à demanda local e de exportação. A obra de Legarda se diferencia da dos demais artistas da época, como Pampite e Caspicara, que utilizaram e abusaram do recurso do páthos (representação do patético na arte que provoca emoção e sentimentos de sofrimento e compaixão no espectador) e do naturalismo em suas representações escultóricas. Ao contrário, Legarda sempre fazia figuras graciosas e esvoaçantes, tais como as denominadas “virgens dançantes”, cujos drapeados flutuantes do panejamento dão a impressão de estar dançando.
Material
Data de produção
Técnica
Local de produção
Anotações do Colecionador
Escultura em madeira policromada, dourada e prateada. Estofamento, olhos de vidro
Bibliografia
BAYÓN, Damián; MARX, Murillo. History of South American colonial art and architecture: Spanish South America and Brazil. New York: Rizzoli, 1992. p. 218-221.
KENNEDY-TROYA, Alexandra (org.). Arte y artistas quiteños de exportación. Arte de la Real Audiencia de Quito, siglos XVII-XIX. España: Nerea, 2002. p. 185-203.